67 Tal vez eles tenham tido os olhos ofuscados pela limitação das demandas que chegavam aos seus ouvidos. Afortunadamente, a pot foi capaz de se sensibilizar pela pessoa humana, tal como Chanlat (1984) a assume. Conclusão Tendo analisado na história da pot algumas de suas contribuições mais significativas, pode-se concluir que essa especialização transdisciplinar da Psicologia construiu um campo de conhecimento que foi disponibilizado para explicar a organização do trabalho e a vida do trabalhador. Esse conhecimento foi apropriado por diversos grupos e instituições para suas ações e intervenções nos problemas implicados na institucionalização e racionalização do trabalho, bem como na construção da qualidade de vida na sociedade. Como campo especializado do conhecimento, a pot não tem poder de prescrição do agir humano, mas limita-se a investigar as causalidades dos eventos relacionados com o trabalho. Como sujeito vivo e coletivo, a pot criou e seguirá construindo sua identidade de modo reativo porque seu próprio objeto de estudo constitui-se num vir-a-ser em contínua reconstrução devido à dinâmica da sociedade, da economia e da tecnologia. Alem disso, a velocidade das mudanças no contexto de trabalho dificulta a investigação científica porque se constitui num outro sujeito vivo em contínuo vir-a-ser. No atual contexto de trabalho é complicado se falar em processos regulatórios e emancipatórios tendo em vista a virtualização e a velocidade dos eventos, diferenciação entre discurso e realidade e a problemática regularidade dos objetos e situações a serem observadas. Nesse contexto, o trabalhador é mantido sob pressão de contínua re-aprendizagem de seu oficio, de renegociação de suas recompensas e de reavaliação de seus instrumentos. Será difícil prever o que ocorrerá na organização do trabalho quando em futuro próximo, ocorrerá nova alteração da tecnologia de produção em direção aos robôs e à nanotecnologia. Se hoje, o contexto de trabalho vive uma situação de permanente desequilíbrio interno devido a amplas mudanças nos eventos, dentro de uma tecnologia que potencializa a velocidade e a virtualização dos eventos, as ações serão provavelmente ainda mais complicadas. Por esse motivo, não faltam argumentos e razões para se reconhecer a terceira epistemologia na Psicologia (Grossberg, 2003), nem motivos para se esquivar da reflexão como necessidade primária de vida, como coloca Sloterdijk (2011). A pot é um espaço de reflexão sobre a pessoa, o trabalho e a sociedade. Diante desses futuros desafios ela ainda dispõe de potencialidades que podem contribuir com a compreensão dos mistérios da sociedade. Referencias Archer, F. (2002). “L’Emergence de La Societé Hipertexte”. Futuribles, 275, 37-44. Arendt, H. (1958). The Human Condition. Chicago, Ill.: Chicago University Press. Arthur, M. & Rousseau, D. (1996). The Boundaryless Careers. New York: Oxford University Press. Baxter, J. (1993). Behavioural Foundations of Economics. New York: St Martin’s. Chanlat, J. F. (1984). L`Individu dans l`Organisation: Les dimensións oubliées. Québec: Presses de l`Université de Laval. Dejours, C. (1987). A Loucura do Trabalho. São Paulo: Oboré Editora. Dujarier, A. M. (2012). L’ Ideal au Travail. Paris: puf. Grossberg, L. (2003). “Le coeur des ‘cultural studies’”. L´Homme et la Societé, 149 (3), 41-55. Hearshaw, L. S. (1964). A Short History of British Psychology 1900-1940. London, Methuen & Co. Kallinikos, J. (2003). Networks as alternative forms of organization: Some critical remarks. London: London School of Economics, Department of Information Systems. Mimeo. Koppes, L. (2007). Historical perspectives in industrial and organizational psychology. Mahwah, N. J.: lea. Levi, D. (2011). Group Dynamics for Teams. Thousand Oaks, CA.: Sage. Malvezzi, S. (2010). “A Profissionalização dos Psicólogos - Uma história de promoção humana”. In A. V. Bastos & S. Gondim. O Trabalho do Psicólogo no Brasil. Porto Alegre: Bookman Artmed. Malvezzi, S. (2006). Psicologia Organizacional e do Trabalho - Uma identidade em construção. Tese de Livre Docência. São Paulo: ip-usp, mimeo. Marchington, M., D. Grimshaw, J. Rubery & H. Willmott (2005). Fragmenting work: Blurring boundaries and disordering hierarchies. Oxford, U.K.: Oxford University Press. Menzies, I. (1978). O Funcionamento das Organizações como Sistemas de Defesa Contra a Ansiedade. São Paulo: eaesp-fgv, Mimeo. Montmoullin, M. de (1974). A Psicotécnica na Berlinda. Rio de Janeiro: Livraria Agir. Pagés, M., V. de Gaulejac, & D. Descendre (1987). O Poder das Organizações. São Paulo: Editora Atlas. Sloterdijk, P. (2011). Tu dois changer ta vie. Paris: Libella/MarenSell. Sotto, R. (1998). The Virtualization of the Organizational Subject. In R. Chia (ed.). Organized Worlds. London: Routledge.
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