Rúbricas 1

35 poder enquanto as verdadeiras e futuras vítimas vivem num mundo a parte, onde a necessidade de sobreviver não lhes permitem ter autonomia pelo seu corpo, pela vontade ou não de praticar sexo. Numa realidade onde o maior bem é o seu corpo, pois a educação e as necessidades básicas, fundamentais para o desenvolvimento saudável, principalmente para o desenvolvimento de sua autoestima não foram atendidas, ou criadas. As maiores vítimas do tráfico de pessoas acreditam estar em condição de total incapacidade para exercerem outra profissão. A questão da vulnerabilidade ao tráfico de pessoas vai muito além de oportunidades num mundo onde o sujeito não se identifica como participante. Toda esta questão traz consigo uma carga histórica, onde ganhar dinheiro com a venda e escravidão de pessoas foi a base para se alcançar a realidade de hoje. O fim deste tipo de violência não é algo de fácil resolução. Deve-se pensar em possibilidades para evitar a necessidade de mulheres se submeterem a qualquer tipo de trabalho que lhes tirem sua autonomia sobre seus corpos e suas vontades. Já tendo entrado como vítima dessas redes de tráfico, ou atuando como profissionais do sexo por vontade própria, quais as medidas tomadas para oferecer apoio a essas garotas, principalmente em relação à saúde, prevenção de DST? Em 2006 o debate sobre o tráfico de pessoas ganha espaço na agenda do poder legislativo com a aprovação do Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP). Este plano visa garantir a prevenção do tráfico e total apoio às vítimas do tráfico de pessoas, dando atenção especial a mulheres e crianças. Suas diretrizes para a saúde são (conteúdo original do PNETP): a) Garantir atenção integral para as vítimas de tráfico de pessoas e potencializar os serviços existentes no âmbito do Sistema Único de Saúde b) Acompanhar e sistematizar as notificações compulsórias relativas ao tráfico de pessoas sobre suspeita ou confirmação de maus-tratos, violência e agravos por causas externas relacionadas ao trabalho c) Propor a elaboração de protocolos específicos para a padronização do atendimento às vítimas de tráfico de pessoas d) Capacitar os profissionais de saúde na área de atendimento às vítimas de tráfico de pessoas. Não há registro de medidas estatais especificamente para a saúde de mulheres vítimas de exploração sexual dentro do tráfico de pessoas. Quando o pnetp (Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas) afirma se comprometer a dar atenção especial a mulheres e crianças, podemos deduzir que se trata de mediadas em relação a exploração sexual, em especial no caso de mulheres. É comprovado que maioria das mulheres traficadas são vítimas deste tipo de violência. É necessário o treinamento de profissionais para lidar especificamente com este tipo de caso. As conseqüências da escravidão sexual são alarmantes. O resultado desta violência são mulheres com transtornos psicológicos, dst, esquecidas, preferindo o anonimato a fazer qualquer tipo de denúncia. Este tipo de comportamento é reflexo da maneira preconceituosa com que o assunto da prostituição ainda é tratado e o caráter punitivo de diversas medidas criadas para a prevenção da prostituição seja aqui ou em outro país. Trata-se esta atividade sempre como um crime não considerando o fator principal, a realidade das pessoas que se dispõem a sair de seu país em busca de oportunidades. A pesquisa “Tráfico de Mulheres: um novo / velho drama amazônico”, realizada por Lucia Isabel da Conceição Silva e Marcel Theodoor Hazeu retrata a situação de meninas e mulheres da Amazônia, hoje reconhecida como a maior rota do tráfico de pessoas, estas estimativas se devem pela sua dimensão territorial. Mas não se pode excluir o descaso de autoridades como um dos fatores que colaborem para a existência de aproximadamente 147 rotas para o tráfico nesta região. Nesta pesquisa temos contato com relatos de mulheres vítimas do tráfico, são vítimas conhecidas por nós até então como mais um dos números de estatísticas. A realidade deste grupo alvo da máfia do tráfico de pessoas explicita a importância de um atendimento mais especializado, focado em suas histórias, não as tratando de modo marginalizado, inserindo estas mulheres em seu país. São mulheres que depois de terem passado por tanta humilhação perderam a confiança no Estado, e não se vêem em condições de modificar sua realidade por conta própria. É necessário um atendimento que as aproxime de programas de saúde, capacitação profissional, como uma forma de reintegrá-las a sociedade e assim reconstruir sua autoestima. A compreensão do motivo de tantas mulheres saírem do país para se prostituir, também deve ser levada em conta. Vejamos este relato de uma das vítimas do tráfico, este discurso demonstra a importância da figura masculina sobre a vida da mulher, (conteúdo original da pesquisa Tráfico de Mulheres: um novo / velho drama amazônico): GA, 26 anos. 3 filhos. Foi para o Suriname pela primeira vez “por vontade própria”. “Talvez lá fosse melhor do que aquí”, pensou. Procurou uma mulher que sempre levava meninas e se ofereceu. “Eu sabia que ia para um clube trabalhar como prostituta, mas eu não sabia o

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