37 que ia pagar lá dentro, que ia entregar meu passaporte, ficar presa. Eu fiz contrato de 450 dólares sem saber. Eu trabalho pra pagar a passagem, pago o dobro. Ela (a gerente) não gostou de mim porque eu sou o tipo de pessoa que, quando tenho que dizer, eu digo. O patrão veio passar a mão em mim e eu disse: O senhor é patrão, eu empregada. O senhor no seu lugar, eu no meu. Ele não gostou de mim”, declara. Trabalhou pouco tempo num clube e depois arranjou um protetor, um holandês amigo do dono do clube que passou a ajudá-la e com quem passou a viver uma relação conjugal. Este homem, na verdade, é casado com uma surinamesa e, além disso, mantém uma relação conjugal com uma irmã de GA. Ela, portanto, passou a ser sua terceira esposa. Foi no dia em que cheguei lá. Esse holandês era amigo do marido da minha amiga (dono de um clube) e, quando eu vi, foi amor à primeira vista. Ele foi meu anjo da guarda mesmo. Eu tinha ajuda do holandês e, às vezes, ele pagava a minha estadia no clube, alimentações... Ele se aborrecia porque sabia que à noite as meninas tinham que ficar com todo tipo de homem. Lá no Suriname, eu fico sozinha numa casa alugada. Eu acho bom. Ele me dá dinheiro todo dia. Quando eu quero sair, o empregado dele me leva. Pra ele, eu sou mulher dele. Eu não sou mais puta. Ele tem cuidado com minhas roupas, pra ninguém me comparar com uma garota de programa. Eu tenho medo de magoar ele. Em função da situação, GA não fica sempre no Suriname, sendo mandada de tempos em tempos para Belém e depois, por insistência sua, ele a chama para o Suriname. GA afirma que sua vida está melhor hoje, pois conseguiu comprar as coisas para seus filhos, cama e outros móveis para a casa. “Financeiramente minha vida está melhor”, afirma. Sendo oriunda de um país machista, as mulheres imigrantes tendem a suportar mais agressões por parte de seus parceiros, pois trazem consigo a cultura de os homens se sobreporem às mulheres, tornando-se cada vez mais submissas assim reivindicando menos por seus direitos. No ambiente de trabalho, as mulheres são discriminadas por serem mulheres, pode-se daí, imaginar o tratamento preconceituoso voltado às mulheres imigrantes, em condição irregular com a finalidade se prostituirem. A criação e execução de propostas oferecendo um ambiente mais acolhedor e voltado às necessidades das mulheres, proporcionando apoio e incentivo a sua autonomia, não só diminuiria o número de mulheres imigrantes, (partindo do pressuposto de que a falta de oportunidades em seu país seja um dos agravantes para o crescente número de mulheres imigrantes) como também teríamos uma população feminina consciente de seus direitos aqui ou em outros países. Esta afirmação pode soar um tanto quanto utópica à primeira vista, mas já vem sendo estudada em Portugal, considerado em 2008 como o país com maior apoio às mulheres vítimas do tráfico ou exploração laboral de alguma forma. Este apoio não se restringe às mulheres, abrange a toda população imigrante, independente do sexo ou condição, irregular ou não. Em relação à saúde sexual e reprodutiva, as mulheres imigrantes em condição irregular recebem acompanhamentos redobrados por representarem um grupo de risco à transmissão de dst. Há ainda medidas visando prevenir a violência e o abuso sexual contra elas. Estas medidas foram pensadas pelas conseqüências deste tipo de violência, mulheres violentadas têm a saúde, tanto física quanto psicológica, mais vulnerável. Portugal defende a idéia de que o país acolhedor é responsável pela saúde do imigrante. Mesmo com toda essa rede de apoio, muitas mulheres, por estarem em situação irregular, não procuram auxílio médico por medo de serem deportadas, deixando para se tratarem quando já se encontram em um estado de saúde muito grave. A intenção da exposição das medidas tomadas por Portugal e atenção aos imigrantes, não é passar a imagem de Portugal como um país acolhedor à prostituição e imigrantes que lá chegarem com este propósito serão muito bem-vindos. Embora, o país tenha avançado bastante em relação a reconhecer a existência da prostituição como profissão e das necessidades dos profissionais do sexo, não se pode ignorar a discriminação e preconceito sofridos por muitas imigrantes, em especial brasileiras, por parte da população. O intuito deste estudo é demonstrar os caminhos possíveis de serem seguidos também pelo Brasil, uma maneira de mostrar possibilidades para termos um atendimento de qualidade a saúde das mulheres vítimas ou em situação de vulnerabilidade ao tráfico de pessoas. Dados da Polícia Federal, demonstram que 83% das vítimas do tráfico de pessoas são mulheres, entre 18 e 21 anos e em sua maioria profissionais do sexo, ou seja, muitas mulheres já saem daqui sabendo que serão prostitutas em outro país. Mas, são surpreendidas com as diversas violências que sofrem. A questão maior deste estudo, não é a mulher se prostituir, aqui ou em outro país, e sim o tratamento marginalizado oferecido a elas, sempre tratando o assunto com um caráter punitivo, tirando de uma profissional do sexo a possibilidade de denunciar os abusos sofridos, dificultando assim a criação de medidas eficazes para combater o preconceito e as ofereça tratamento humanizado, principalmente na área da saúde. Muitas medidas já criadas podem ser causadoras indiretas do fortalecimento do preconceito da sociedade para com estas profissionais. Frases e cartazes espalhados pelo mundo com mensagens do tipo: “Combata a prostituição” faz crescer o sentimento de repúdio da sociedade contra as prostitutas, tratando-as de modo hostil e deixando-as
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